Após integrar a IPG, a Omnicom cortará 10.000 empregos e eliminará as marcas FCB, DDB e MullenLowe

Omnicom revelou a nova estrutura e a equipa de direção com que irá operar após concluir a aquisição da Interpublic Group (IPG) por 13.500 milhões de dólares — uma operação que dá origem ao maior grupo publicitário do mundo em receitas e reorganiza o mapa de poder na Madison Avenue. O novo holding, liderado por John Wren como CEO, passa a estar organizado em sete grandes divisões e implicará o corte de cerca de 4.000 postos de trabalho a nível global, além do desaparecimento de três marcas históricas da publicidade: FCB, DDB e MullenLowe, que serão absorvidas pela BBDO e pela TBWA.

Sete divisões e três redes criativas

O braço criativo do grupo passa a chamar-se Omnicom Advertising e continuará a ser liderado por Troy Ruhanen. Sob este chapéu passam a existir três redes criativas globais: TBWA, BBDO e McCann, que se tornam as marcas de referência do novo ecossistema criativo da Omnicom.

Nesta reorganização:

  • A FCB é integrada na BBDO

  • DDB e MullenLowe passam para a rede TBWA

As três deixam de existir como redes globais, embora parte das equipas e capacidades seja redistribuída dentro das estruturas da BBDO e da TBWA. Todos os ativos que continham a marca “IPG”, como IPG Health ou IPG Mediabrands, também desaparecem.

A Omnicom manterá, além disso, um amplo portefólio de agências boutique e especializadas dentro da Omnicom Advertising Collective, assim como várias agências independentes da IPG com forte posicionamento próprio — entre elas The Martin Agency, Goodby Silverstein & Partners, Lucky Generals, GMR, Lola, Africa ou GSD&M, bem como agências especializadas como Alma, Dieste ou Platinum Rye.

Na área de meios, a Omnicom Media — liderada por Florian Adamski — reúne as agências históricas do grupo (OMD, PHD, Hearts & Science) com as provenientes da IPG (Mediahub, Initiative e UM), formando a maior organização de media do mundo em volume de investimento gerido.

As restantes divisões estruturam-se da seguinte forma:

  • Flywheel Commerce Network e OmniPlus, o novo stack de dados e comércio liderado por Duncan Painter

  • Omnicom Production, que se funde com a Craft (IPG), sob liderança de Sergio López

  • Omnicom Precision Marketing, liderada por Luke Taylor

  • Omnicom Public Relations, sob a direção de Chris Foster

  • Omnicom Health, liderada por Dana Maiman (ex-IPG Health), que reporta a Michael Larson, CEO da Omnicom Diversified Agency Services

Até 10.000 postos de trabalho eliminados desde o anúncio da operação

O anúncio da nova estrutura surge acompanhado de um forte ajuste de pessoal. Wren estima que serão eliminadas cerca de 4.000 posições a nível global como parte do processo de integração e procura de sinergias.

Estas saídas somam-se:

  • aos 3.200 postos que a IPG já tinha cortado em 2025

  • aos 3.000 trabalhadores despedidos pela Omnicom após o anúncio do acordo no outono passado

No total, o processo terá eliminado cerca de 10.000 empregos, aproximadamente 8% da força de trabalho combinada em 2024.

Wren refere que os cortes incidem sobretudo em funções duplicadas e camadas de gestão consideradas desnecessárias. O executivo reconhece o impacto humano, afirmando que o objetivo é comunicar as decisões “o mais depressa possível”, para evitar deixar os colaboradores “num estado de incerteza” à entrada de dezembro. Ruhanen acrescenta que as reduções começaram a 1 de outubro.

Florian Adamski, responsável pela Omnicom Media, procurou desvalorizar a narrativa centrada nos cortes, afirmando que a integração não é “um exercício de destruição de emprego”, mas sim um redesenho da organização “para o futuro”.

Novo modelo de serviço ao cliente e governance do grupo

A nova estrutura introduz também um papel transversal na gestão de clientes. Cada anunciante terá um client success leader, responsável por orquestrar o acesso ao talento, ferramentas e capacidades de todo o grupo.

Estes responsáveis reportarão a:

  • Jacki Kelly, nova chief client and business officer (vinda da IPG)

  • Andrea Lennon, chief client experience officer (Omnicom)

A nível corporativo, George Manas, ex-CEO da OMD Worldwide, assume o cargo de chief growth and solutions officer, centrado no desenvolvimento de soluções de dados e tecnologia à medida para grandes contas.

Os veteranos Daryl Simm e Phil Angelastro mantêm-se como COO e CFO, respetivamente, enquanto o ex-CEO da IPG, Philippe Krakowsky, continua como copresidente e COO do novo holding.

OmniPlus: dados, comércio e IA “agente” como núcleo da nova Omnicom

O anúncio coloca grande destaque na OmniPlus, a evolução da plataforma Omni, que integrará:

  • a infraestrutura de dados Acxiom Real ID

  • as capacidades de retail e commerce da Flywheel

O objetivo é criar um sistema operativo unificado, desde o planeamento criativo até à ativação de meios e medição de vendas.

Segundo Duncan Painter, a OmniPlus será lançada oficialmente no CES 2026 e começará a ser implementada nos 10 maiores clientes do grupo no primeiro trimestre, oferecendo:

“A ligação entre o pensamento criativo, a execução em meios e o reporting de vendas com base em registos unificados de consumidores por marca”.

O CTO da Omnicom, Paolo Yuvienco, descreve o dataset resultante como:

“O conjunto de dados mais poderoso do mundo no lado da compra de publicidade”,

já integrado com ferramentas de IA agentic, capazes de otimizar audiências, bids e criatividade.

No campo dos meios, a combinação Omnicom + IPG ultrapassa os 73.400 milhões de dólares em billings, criando um gigante capaz — segundo Wren — de “fechar os melhores acordos comerciais para os clientes e para a empresa”.
Adamski nota, contudo, que o principal media (as compras colocadas no balanço do grupo) continua a ser uma parte “pequena” do volume total, ainda que seja um veículo crucial para gerar valor adicional.

Um agência desenhada para um mercado dominado pela IA

Para além dos nomes históricos que desaparecem e do impacto imediato no emprego, a mensagem é clara: a Omnicom está a redesenhar a sua arquitetura para um mercado em que a inteligência artificial e os dados de comércio serão o centro da proposta de valor para os anunciantes.

Como sintetizou Adamski, a empresa prepara-se para um cenário em que:

“Dentro de cinco anos, estaremos a anunciar e a comunicar com sistemas de IA mais do que com audiências humanas”.

No curto prazo, o desafio será concluir uma integração complexa — com milhares de trabalhadores afetados e redes icónicas a desaparecer — sem prejudicar a relação com os clientes nem diluir o talento criativo e estratégico que fez de DDB, FCB ou MullenLowe nomes fundamentais da publicidade moderna.

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