Google I/O 2025: o verdadeiro plano por detrás do hype da IA generativa
O desfile anual de novidades da Google está de volta. E, como sempre, os destaques vão para o Gemini Live, Veo 3, Imagen 4, integração com o Chrome, Deep Research, Canvas e, claro, os novos planos de subscrição. A narrativa oficial: “tornar a IA mais pessoal, proativa e poderosa”.
Mas para quem acompanhou a forma como a Google construiu o seu império, o mais importante não está no discurso, mas sim no modelo de poder que se esconde por trás. Porque o que vimos na I/O 2025 não é apenas uma atualização tecnológica — é o início de uma reconfiguração total do stack digital, onde a Google já não se limita a indexar o conteúdo: agora gera-o, interpreta-o e automatiza-o. E isso tem implicações profundas para anunciantes, agências e meios de comunicação.
O Gemini já não é um chatbot — é um sistema operativo
Com o Gemini Live, a Google leva a interação para outro nível: câmara, partilha de ecrã, conversação contextual e ligação com produtos como o Calendar, Maps ou Keep. Não é um assistente. É uma camada de interface que começa a substituir a navegação tradicional.
Estás a ver um produto no telemóvel? Não abras um separador. Pergunta diretamente.
Estás a planear um jantar? Deixa o Gemini criar o evento, sugerir restaurantes e tratar da logística.
Isto é a Google a construir a sua própria “linha de comandos” natural sobre o mundo digital, e isso muda radicalmente a forma como o tráfego… e a atenção… são distribuídos.
Imagen 4 e Veo 3: conteúdo sem criadores
As novas versões de geração de imagens (Imagen 4) e vídeo (Veo 3) impressionam: melhor tipografia, renderização realista, efeitos sonoros nativos, diálogos entre personagens — tudo gerado a partir de texto.
Mas a questão não é se são bons — são. A questão é: o que acontece aos milhões que as marcas investem em criatividade, produtores, agências, estúdios? E o que acontece quando a Google, além de mostrar resultados, começa a sugerir conteúdos que ela própria criou, treinou e monetizou?
Deep Research e Canvas: do briefing ao código, sem intermediários
O Deep Research combina dados públicos com PDFs, imagens e, em breve, também com ficheiros do Drive e do Gmail. O Canvas traduz pedidos em infografias, podcasts ou até aplicações funcionais. A combinação dos dois transforma o Gemini numa máquina de prototipagem com contexto próprio, capaz de resolver briefings sem passar por planners, criativos ou developers.
Isto não é “produtividade”. É desintermediação estrutural.
O novo “freemium” da IA
A Google lança três níveis de acesso aos seus modelos:
Gratuito para estudantes e utilizadores básicos.
Pro (19,99$/mês) para o resto do mercado: investigação, produtividade, criação de conteúdos.
Ultra (249,99$/mês) com acesso aos modelos mais avançados (Veo 3, Deep Think, Agent Mode) e prioridade em velocidade e funcionalidades.
Aqui não se está apenas a vender software — está-se a estabelecer uma hierarquia de acesso à inteligência. Quem pagar mais, vai perceber mais depressa. Executar mais depressa. Chegar mais depressa.
Mas o que faz, afinal, o Ultra? Pode:
Navegar por ti
Compreender os teus objetivos
Coordenar tarefas
Executar fluxos complexos com supervisão mínima
Bem-vindo ao modo Agente, onde tu dás a intenção… e a Google executa.
E para o negócio da publicidade?
Ainda não foi dito, mas o destino é claro: se o Gemini vive dentro do Chrome, do telemóvel, do conteúdo e do calendário, também viverá dentro da decisão de compra. E se o Gemini controla a intenção, o contexto e a execução, a lógica publicitária tradicional — baseada em impressões, leilões e audiências — passa a ser tática. A oportunidade está lá para as marcas: conteúdo gerado, meios automatizados, distribuição personalizada. Mas também está lá para a Google: cada interação, cada pergunta, cada passo passa pelo seu agente.
É o fim da “pesquisa” e o início da “sugestão”.
O que a Google apresentou ontem não é apenas mais uma evolução do assistente virtual — é a transição silenciosa para um modelo de interação total, onde a IA não só responde: antecipa, cria e decide.
Para os anunciantes, isto redefine a forma como se pensa o funil de conversão.
Para as agências, como se oferece valor.
E para os meios… como sobreviver sem tráfego orgânico nem controlo sobre a distribuição.
A Google já não organiza apenas a informação do mundo. Agora decide o que fazer com ela.