PubMatic Q1 2025: resiliência em tempos incertos, IA na agenda e uma SSP em evolução

Num mercado onde o investimento em publicidade digital avança a passos curtos, cautelosos e algo imprevisíveis, a PubMatic apresentou um trimestre que, embora modesto à primeira vista, revela sinais claros em profundidade: esta não é uma empresa em retirada, mas sim uma que está a reposicionar a sua base, a investir na diferenciação e a preparar-se para um mercado programático mais competitivo e menos dependente de intermediários.

Resultados financeiros: menos receita, mas superando expectativas

A PubMatic reportou receitas de 63,8 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2025, uma queda de 4% face aos 66,7 milhões do mesmo período de 2024. À primeira vista, parece um recuo, mas o contexto é fundamental: excluindo a redução de investimento por parte de uma grande DSP que alterou o seu modelo de leilão e a ausência de investimento político (presente no Q1 de 2024), o negócio core da PubMatic cresceu 21%.

Num cenário onde muitos SSPs estão estagnados ou em contração, este é um sinal claro de resiliência.

Em termos de rentabilidade, registaram um EBITDA ajustado de 8,5 milhões (margem de 13%), abaixo dos 23% do ano anterior, mas com 36 trimestres consecutivos com resultados positivos. A empresa gerou ainda 15,6 milhões em fluxo de caixa operacional e mantém uma posição financeira sólida, com 144,1 milhões em caixa e zero dívida.

Produto: CTV, SPO e menos display

Ao nível do portfólio de produtos, a transformação estrutural prossegue:

  • O CTV cresceu mais de 50% em termos homólogos

  • O vídeo omnichannel representa já 40% do total

  • O display, anteriormente dominante, perdeu peso relativo

Mais de 55% da atividade total na plataforma ocorre agora sob lógica de SPO (Supply Path Optimization). Isto é relevante porque representa vendas diretas a agências e anunciantes, eliminando a necessidade de passar por um DSP. Esta tendência está a redesenhar os limites tradicionais entre o lado da compra ("buy side") e o lado da venda ("sell side"). Com a sua plataforma Activate, a PubMatic não oferece apenas acesso ao inventário, mas também execução, segmentação e otimização — funcionando, na prática, como um DSP fechado que opera exclusivamente sobre o seu próprio inventário.

Diversificação geográfica: sólida, embora pouco detalhada

A PubMatic tem vindo a diversificar a sua presença global de forma consistente:

  • EUA: 60% da receita

  • EMEA: 30%

  • APAC: 8%

  • LATAM/resto do mundo: 2%

Esta distribuição não só protege contra choques regionais, como oferece uma base mais alargada para captar crescimento digital fora do ambiente altamente competitivo da América do Norte.

IA generativa: nova stack, nova ambição

A grande novidade do trimestre foi o lançamento de uma plataforma de compra publicitária impulsionada por IA generativa, integrada na Activate, que permite aos compradores utilizarem linguagem natural para configurar campanhas, prever resultados, ativar e otimizar. Ou seja, uma experiência de compra end-to-end, sem necessidade de recorrer a DSPs externos.

A GroupM já está a testar a plataforma. Isto não só melhora a experiência para compradores menos técnicos, como desafia diretamente o papel que os DSPs tradicionalmente desempenham no ecossistema. A PubMatic está a avançar para um modelo híbrido, onde a sua proposta de valor abrange desde o acesso ao inventário até à inteligência de planeamento.

É uma SSP? Um DSP? Ambos? A linha é cada vez mais ténue.

Reação do mercado: morna, mas atenta

A reação inicial dos investidores foi positiva, com uma valorização de 9% no pós-fecho. No entanto, no fecho da sessão seguinte, os ganhos reduziram-se para cerca de 1%. A razão? Alguns analistas apontam para uma realização rápida de lucros e a persistência de pressão sobre o setor. Ainda assim, superar as expectativas — previa-se 62 milhões em receitas e uma perda por ação de 0,22 dólares, face aos 63,8 milhões e perda de apenas 0,20 dólares — envia um sinal de que a PubMatic está bem posicionada para resistir, mesmo sem ventos favoráveis.

A PubMatic não está em fase de hiper-crescimento, mas também não está a recuar. Está a reconfigurar a sua posição na stack programática: menos dependente de DSPs, mais forte em SPO, com uma aposta clara no vídeo, e agora com a IA no centro da sua proposta. Se o mercado programático continuar a evoluir no sentido de caminhos mais diretos, controlados e baseados em dados — como tudo indica — a PubMatic poderá destacar-se como um dos SSPs mais bem preparados para a próxima fase do ecossistema.

Ainda há desafios: retomar o crescimento sustentado, proteger margens e competir num setor em plena transformação. Mas se há algo que o Q1 de 2025 deixa claro, é isto: a PubMatic não está a ceder terreno. Está a redesenhar o mapa.

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