Netflix adquire a Warner Bros. e a HBO Max por 83 mil milhões de dólares, redefinindo o panorama do streaming
A Netflix chegou a acordo para adquirir os estúdios de cinema e televisão da Warner Bros. Discovery, bem como os seus ativos de streaming — incluindo a HBO Max — numa operação avaliada em cerca de 83 mil milhões de dólares. Trata-se da maior movimentação corporativa da história da empresa e de um dos acordos mais significativos das últimas décadas na indústria do entretenimento.
De acordo com os termos divulgados, a Netflix propõe 27,75 dólares por ação da Warner Bros. Discovery, o que representa um prémio de aproximadamente 12% face ao fecho bolsista do dia anterior. A compensação combinaria numerário e ações, num esquema composto por 23,25 dólares em dinheiro mais 4,501 dólares em ações da Netflix por cada título da Warner. No total, o valor empresarial ascenderia a cerca de 82,7 mil milhões de dólares.
A corrida pela histórica produtora foi intensa. A Paramount-Skydance, liderada por David Ellison, e a Comcast demonstraram interesse em diferentes vias de aquisição e, nas horas que antecederam o anúncio, a Paramount chegou a denunciar um processo de venda alegadamente favorável à Netflix. A empresa também terá exigido garantias de governação na avaliação final das propostas, recordando que meses antes apresentara uma oferta próxima dos 60 mil milhões de dólares.
Para lá da dimensão financeira, o negócio tem um peso estratégico evidente. Após anos a defender um modelo de crescimento orgânico, a Netflix procura agora blindar a sua cadeia de valor e controlar diretamente a criação e exploração de conteúdos. Com a integração do universo Warner, a plataforma reforçará um portefólio de propriedade intelectual e catálogo sem paralelo: das franquias da DC às séries emblemáticas da HBO e a um vasto legado histórico do cinema e televisão. A operação ampliará ainda a infraestrutura de produção e consolidará a posição competitiva da empresa num mercado cada vez mais concentrado.
Contudo, o fecho não será imediato. Antes de a Netflix assumir o controlo efetivo dos ativos, a Warner Bros. Discovery terá de concluir a separação da sua divisão de canais tradicionais, criando uma nova empresa independente. Esta cisão incluirá marcas e canais como CNN, TBS, TNT Sports, entre outros ativos televisivos e de distribuição internacional. A reorganização está prevista para o terceiro trimestre de 2026, atrasando a consumação final do negócio e acrescentando complexidade operacional ao processo.
O capítulo regulatório promete ser outro obstáculo crítico. A fusão de dois dos principais players de streaming nos Estados Unidos poderá desencadear um escrutínio aprofundado por parte das autoridades da concorrência. Em antecipação, o acordo contempla uma cláusula de rescisão com penalização de 5 mil milhões de dólares em caso de bloqueio regulatório, refletindo o risco político e económico de uma concentração desta dimensão.
Para os utilizadores, o impacto poderá ser profundo. É expectável que a HBO Max deixe de operar de forma independente, passando a integrar a oferta Netflix — o que implicará migração de contas e redefinição de planos de subscrição. A empresa ainda não detalhou como reorganizará a oferta, mas a expansão do catálogo poderá traduzir-se tanto em ajustes de preço como na criação de novos níveis premium ou pacotes unificados. O desfecho mais provável: um serviço maior, com maior influência cultural — e ainda mais determinante no equilíbrio de poder em Hollywood.
Com este movimento, a Netflix não compra apenas um catálogo: adquire uma máquina criativa centenária e acelera uma tendência rumo a um mercado onde poucas plataformas controlarão uma fatia crescente das grandes franquias globais. Se o acordo superar os obstáculos regulatórios e se concretizar dentro do calendário previsto, o streaming entra numa nova fase de concentração, em que a disputa já não será apenas pelo utilizador, mas pela propriedade das histórias que moldam o entretenimento do século XXI.

