Um relatório revela que as emissões de CO2 da Google aumentaram 65% entre 2019 e 2024
Segundo o mais recente relatório de Sustentabilidade da Google, as emissões de CO₂ da empresa dispararam 51% desde 2019. Apesar de ter investido em energias renováveis e tecnologias de remoção de carbono, a Google não conseguiu reduzir as suas emissões de alcance 3 (scope 3) — aquelas que resultam da cadeia de fornecimento e que são amplamente influenciadas pela expansão da capacidade dos centros de dados. Estes desempenham um papel fundamental no treino e funcionamento de modelos de inteligência artificial, como o Gemini da Google ou o GPT-4 da OpenAI, que alimenta o chatbot ChatGPT.
Ainda assim, como assinala o relatório, a empresa conseguiu reduzir em 12% as emissões de scopes 1 e 2, resultantes das operações dos seus centros de dados, mesmo com um aumento de 27% no consumo de eletricidade.
A Agência Internacional da Energia estima que o consumo elétrico total dos centros de dados possa duplicar face aos níveis de 2022, atingindo os 1.000 terawatts-hora (TWh) em 2026 — um volume equivalente ao consumo elétrico do Japão. Segundo a empresa de análise SemiAnalysis, os centros de dados deverão consumir 4,5% da produção energética mundial até 2030, impulsionados pela IA. O relatório da Google expressa também preocupação com o facto de a rápida evolução da IA poder gerar uma “procura energética de crescimento não linear”, dificultando a previsão das futuras necessidades de energia e das trajetórias de emissões.
Uma nova investigação levanta o tom
Contudo, segundo noticiou na semana passada o The Guardian, uma nova investigação questiona esse número — já de si elevado. Elaborado pelo grupo sem fins lucrativos Kairos Fellowship, o relatório intitulado Google Echo Failures conclui que, entre 2019 e 2024, as emissões de carbono da Google aumentaram, na verdade, 65%. Além disso, entre 2010 (primeiro ano com dados públicos sobre emissões da empresa) e 2024, as emissões totais de gases com efeito de estufa da Google cresceram 1.515%. O maior aumento anual registou-se no último período, de 2023 para 2024, com um crescimento de 26% num só ano, segundo a investigação.
As discrepâncias, de acordo com os autores do estudo, devem-se às diferenças nos métodos de medição. Enquanto a Google utiliza o método baseado no mercado, os investigadores recorreram ao método baseado na localização. Este último reflete a média da energia que a empresa consome diretamente das redes elétricas locais, ao passo que o método baseado no mercado inclui também a energia comprada para compensar as emissões totais.
As emissões de escopo 2 da Google — que correspondem à energia comprada para alimentar os seus centros de dados — aumentaram 820% desde 2010. Em termos absolutos, o relatório explica que, em 2024, a Google emitiu mais 21,9 milhões de toneladas métricas de CO₂ do que há 14 anos. “É como adicionar 4,7 milhões de carros às estradas num único ano”, afirma o documento.
Apesar de, em 2021, a Google ter assumido o ambicioso objetivo de atingir zero emissões líquidas de carbono até 2030, os anos seguintes mostram uma tendência inversa. O relatório termina com uma declaração contundente: “Concluímos que é improvável que a empresa consiga reduzir as suas emissões até 2030”.
Google defende o seu compromisso
Por seu lado, a Google insiste que está a implementar “soluções de vanguarda que oferecem benefícios tangíveis à escala” e garante que os seus centros de dados estão entre os “mais eficientes do mundo”, fornecendo “mais de seis vezes a potência computacional por unidade de eletricidade do que há apenas cinco anos”.
Fontes da empresa sublinham ainda o seu compromisso com as energias limpas e apontam para os seus projetos de gestão da água, que repuseram aproximadamente 4.500 milhões de galões de água só em 2024. “Adquirimos 8 gigawatts de geração adicional de energia limpa — o maior volume anual da nossa história e o dobro do que contratámos no ano anterior — e colocámos em operação 2,5 GW só no ano passado”, acrescentam.