Comet Plus, o novo modelo de Perplexity que paga aos media pelo uso dos seus conteúdos
O programa destinará 42,5 milhões de dólares a publishers e repartirá 80 % das receitas de subscrição, remunerando com base em visitas diretas, menções em pesquisas e uso por agentes de IA no seu navegador Comet.
Jessica Chan, diretora de parcerias com publishers na Perplexity, explica ao Digiday que a iniciativa surge a partir do feedback dos media que já participavam no programa de partilha de receitas publicitárias da empresa. “O que ouvimos não foi apenas um pedido de melhores pagamentos, mas a necessidade de reinventar a relação entre a IA e os publishers num modelo que funcione para todos”, afirma a responsável.
O mecanismo é claro: as receitas provenientes das subscrições da Perplexity (Pro, Max e o novo nível Comet Plus de 5 dólares) são reunidas num fundo comum. A empresa retém 20 %, e os restantes 80 % são distribuídos pelos publishers participantes. A repartição baseia-se em três variáveis principais:
Tráfego direto: visitas aos sites dos publishers quando os utilizadores navegam via Comet.
Menções em resultados de pesquisa: quando o conteúdo de um media é utilizado como fonte ao responder a perguntas no navegador.
Uso em tarefas de IA: quando os agentes do Comet recorrem a conteúdos editoriais para completar funções como comparar produtos, elaborar respostas ou orientar processos de investigação.
Este modelo coloca a Perplexity entre as primeiras empresas de IA que vinculam diretamente o uso de conteúdo a pagamentos económicos aos media.
Publishers participantes e potencial de receitas
Atualmente, fazem parte do programa media como Blavity, Der Spiegel, Fortune, Gannett, The Independent e Time. Chan assegura que os publishers podem gerar “milhões” com este sistema, embora não tenha revelado quais as empresas que já assinaram para participar no Comet Plus. “A Perplexity só terá sucesso se o jornalismo tiver sucesso. Estamos empenhados em construir ecossistemas de notícias sustentáveis na era da IA”, sublinha Chan. Os primeiros cheques já começaram a ser enviados aos publishers, com pagamentos imediatos que aumentarão consoante cresça a base de subscritores do Comet.
Uma das diferenças-chave em relação a outros agregadores de conteúdos é a visibilidade no modelo de repartição de receitas. Segundo Chan, muitos media indicaram que em plataformas como o Apple News recebem novos leitores, mas têm pouca clareza sobre como o dinheiro é distribuído. Com o Comet Plus, a Perplexity pretende estabelecer um modelo mais transparente que conceda aos publishers maior controlo e visibilidade sobre como os seus conteúdos são remunerados. Esta iniciativa ocorre em paralelo com os esforços da indústria para padronizar o uso de conteúdo na era da IA. O IAB Tech Lab, por exemplo, lançou um grupo de trabalho para estabelecer protocolos de compensação e controlo de bots de IA. Ainda que a Perplexity não tenha participado nestas discussões até ao momento, Chan garantiu que a empresa está aberta a colaborar em quaisquer iniciativas que promovam transparência e compensação justa.
Com o Comet Plus, a Perplexity não está apenas a propor um modelo alternativo de receitas, mas também a marcar um precedente na relação entre a inteligência artificial e os media. A aposta envia uma mensagem clara à indústria: a sustentabilidade do jornalismo na era da IA requer novos modelos de colaboração e compensação. O sucesso do programa dependerá da capacidade da Perplexity de atrair utilizadores pagantes, manter a confiança dos publishers e consolidar-se como um ator diferenciado face a gigantes como o Google ou a OpenAI. Por agora, a empresa posicionou-se no centro da conversa sobre como construir um ecossistema de IA mais justo e sustentável para o jornalismo.
Pontos-chave:
Perplexity lança Comet Plus, um modelo de subscrição que destina 42,5 milhões de dólares aos publishers, repartindo 80 % das receitas com base em tráfego direto, menções em pesquisas e uso por agentes de IA.
A empresa visa diferenciar-se do scraping não remunerado, oferecendo pagamentos transparentes e defendendo que “o sucesso da Perplexity depende do sucesso do jornalismo”.
Os primeiros pagamentos já foram efetuados, mas o programa crescerá à medida que aumentem os utilizadores pagantes e os media participantes, num contexto de maior pressão regulatória e litigiosa contra as grandes empresas tecnológicas.