A Amazon bloqueia discretamente o acesso dos rastreadores do ChatGPT da OpenAI

A Amazon, o gigante do e-commerce, bloqueou discretamente o acesso de mais bots relacionados com a OpenAI ao seu site, segundo atualizações recentes no seu ficheiro robots.txt, acessível publicamente. Esta alteração foi detetada por Juozas Kaziukėnas, analista independente de e-commerce, que partilhou no LinkedIn uma captura de ecrã com as novas regras que impedem o acesso a vários rastreadores associados ao ChatGPT. Estes bots são responsáveis por tarefas como o treino de modelos, navegação web e recolha de informação.

Esta atualização faz parte dos movimentos da Amazon para bloquear agentes de IA que tentam rastrear páginas de produto, monitorizar preços ou realizar compras automatizadas. Enquanto retalhistas como a Walmart, a Target e a Etsy registam mais tráfego proveniente do ChatGPT (além de assinarem parcerias com o chatbot), a Amazon continua a restringir aquilo a que os agentes de IA externos podem aceder, preferindo direcionar os compradores para as suas próprias soluções de IA. Nos últimos meses, a Amazon tem tomado várias medidas para impedir que rastreadores de terceiros extraiam dados do seu site, incluindo os da Meta, Google, Perplexity e outros. A empresa já tinha bloqueado anteriormente o bot GPT da OpenAI, utilizado para recolher conteúdo destinado a treinar o modelo do ChatGPT. Mas as adições mais recentes vão mais longe, ao visar dois tipos adicionais de rastreadores da OpenAI: uma regra bloqueia o “ChatGPT-User”, o agente usado pelo ChatGPT para obter informação em tempo real quando um utilizador faz uma pergunta, e outra bloqueia o “OAI-SearchBot”, que alimenta o novo motor de pesquisa SearchGPT da OpenAI.

O motivo da Amazon para manter os compradores na sua plataforma é, em parte, económico. A empresa gera cerca de 56 mil milhões de dólares anuais em receitas publicitárias — um negócio que depende de os utilizadores navegarem no Amazon.com, em vez de realizarem compras via ChatGPT, onde os anúncios podem ser ignorados. “A Amazon não quer ser apenas o backend da Internet”, comentou Scot Wingo, autor da newsletter Retailgentic e fundador da ReFiBuy, uma empresa que ajuda marcas e retalhistas a otimizar para agentes de IA. “Querem ser a porta principal, e vão lutar por isso durante bastante tempo, diria eu”, acrescentou.

Segundo um relatório da equipa de Investigação Económica da OpenAI, os agentes de IA associados ao ChatGPT ajudam a processar cerca de 50 milhões de consultas diárias relacionadas com compras online — desde “recomendar um portátil por menos de 1.000 dólares” até “quanto custam umas sapatilhas de corrida?”.

A Amazon reforça o controlo sobre o acesso de bots

A mais recente medida da Amazon contra agentes de IA de terceiros é relevante, tendo em conta que a empresa já afirmou que não exclui futuras parcerias. No último relatório de resultados, Andy Jassy, CEO da Amazon, mencionou que a empresa está “em conversações” com agentes de compras de terceiros e que, com o tempo, espera “encontrar formas de colaborar”. No entanto, também salientou que muitos desses agentes fornecem informação incorreta sobre preços, entregas e inventários. “Precisamos de garantir que a experiência do cliente é boa”, afirmou.

O confronto entre a Amazon e ferramentas de IA de terceiros não se limita ao rastreamento web. No início do mês, a empresa enviou uma carta de cessação a Perplexity AI devido ao seu novo navegador Comet, que permite aos utilizadores pedir a um agente de IA para encontrar e comprar produtos na Amazon. A Perplexity acusou a Amazon de “intimidação”, após receber o que descreveu como uma “ameaça legal agressiva” que exigia que deixasse de permitir que o Comet realizasse compras em nome dos utilizadores. Na carta, a Amazon argumentou que a Perplexity estava a incorrer em fraude informática e a usar agentes “disfarçados ou encobertos” para aceder à plataforma sem autorização. Em comunicado, a Amazon referiu que os agentes de compras de terceiros devem “operar de forma transparente e respeitar as decisões dos prestadores de serviços” sobre participar ou não na plataforma.

Em vez de abrir portas a agentes externos, a Amazon está a investir nas suas próprias ferramentas de IA. Por exemplo, lançou funcionalidades como “Auto Buy”, que permite compras automáticas quando o preço de um produto baixa. Além disso, começou a testar este ano um agente chamado “Buy For Me”, que facilita a compra de produtos de outros sites diretamente a partir da app. A Amazon afirma que os compradores que usam o “Rufus” têm 60% mais probabilidade de concluir uma compra, e espera que a ferramenta gere mais de 10 mil milhões de dólares em vendas anuais.

Outros retalhistas apostam nos agentes de IA

Enquanto a Amazon limita o acesso destes agentes, outros retalhistas estão a abraçar a integração dos mesmos no processo de compra. A OpenAI assinou recentemente parcerias com Walmart, Etsy e comerciantes do Shopify, permitindo compras através do checkout instantâneo do ChatGPT. Esta semana, a OpenAI e a Target anunciaram também planos para lançar a sua aplicação dentro do ChatGPT.

Muitos destes retalhistas estão a registar um aumento no tráfego referido pelo ChatGPT, proporcionando uma nova fonte de compradores online. A Walmart, por exemplo, passou de cerca de 20% para 36% de tráfego referido, segundo dados da Similarweb. Embora os cliques de referência representem menos de 5% das visitas ao site, o impacto pode ser significativo se mais compras passarem por agentes de IA como o ChatGPT.

Segundo Sky Canaves, analista da eMarketer, a Amazon tem adotado uma postura cada vez mais “agnóstica” sobre se os consumidores compram na sua plataforma ou fora dela, desde que obtenha uma comissão da venda. Isto levou a parcerias inesperadas, como a expansão do seu serviço de logística para gerir encomendas de rivais como Walmart, Shein e Shopify, e a colaborações com plataformas sociais como TikTok e Pinterest. Esta tendência levanta dúvidas — como assinala a Cowen — sobre se a Amazon poderá adotar uma postura semelhante com agentes de IA no futuro.

No entanto, dado que controla cerca de 40% do gasto em e-commerce nos EUA, e que 90% dos seus compradores começam as pesquisas diretamente em Amazon.com, é provável que continue a bloquear agentes de IA — pelo menos por agora. Como Kaziukėnas resumiu: “Não há qualquer benefício para uma plataforma como a Amazon em participar em algo desse género.”

Anterior
Anterior

As Retail Media Networks vão aproximar-se dos 20% do investimento publicitário em 2029, com a medição a manter-se como a principal lacuna por resolver

Próximo
Próximo

A Kroger envia emails personalizados com insights de IA aos seus fornecedores