A Google atinge os 2 mil milhões de utilizadores mensais no AI Overviews

A Google deu um passo decisivo na sua transformação para uma experiência de pesquisa baseada em inteligência artificial. De acordo com os dados apresentados na mais recente divulgação de resultados, o AI Overviews já chega a mais de 2 mil milhões de utilizadores únicos por mês. Este número representa um aumento de 500 milhões de utilizadores em apenas um trimestre, refletindo uma adoção vertiginosa de uma funcionalidade que só foi lançada ao público em maio de 2023. “O AI Overviews já está disponível em mais de 200 países e territórios e em mais de 40 idiomas”, anunciou Sundar Pichai, CEO da Google, durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre de 2025.

Uma nova lógica de descoberta

O crescimento do AI Overviews não é apenas uma questão de escala, mas de modelo. Pela primeira vez na história do motor de busca, os utilizadores recebem uma resposta gerada automaticamente (e visualmente destacada) antes de qualquer link orgânico, alterando a lógica de descoberta na web. Pichai garantiu que os resumos do Overviews impulsionam mais de 10% de crescimento nas pesquisas em que aparecem. Ou seja, os utilizadores tendem a pesquisar mais e a depender mais desta nova forma de busca assistida, reforçando o papel da Google como “fornecedor final de respostas”.

No entanto, este crescimento traz um efeito colateral significativo: a queda na taxa de cliques para sites externos. Um estudo recente do Pew Research Center demonstra o impacto do AI Overviews nos padrões de tráfego:

  • Quando não há resumo de IA, 15% das pesquisas geram cliques nos resultados.

  • Quando há resumo, apenas 8% dos utilizadores clicam.

  • E só 1% dos utilizadores clica dentro do próprio resumo (onde estão citadas as fontes).

Para publishers, criadores de conteúdo e negócios dependentes de tráfego orgânico, estes dados representam uma mudança radical. Embora os links continuem presentes, a sua visibilidade foi relegada para segundo plano, numa interface que privilegia respostas diretas sem necessidade de visitar outros sites.

“Estamos a entrar na era pós-clique: os utilizadores obtêm respostas sem ter de visitar o teu site. Se o clique desaparece, a visibilidade já não se mede em posições, mas em presença e autoridade”, alerta Sam Hailstone, diretor de SEO na Brave Bison, em declarações à Digiday.

Monetização para a Google, sem partilha para os restantes

Enquanto o tráfego diminui, a Google assegura que a monetização do AI Overviews é tão eficaz quanto a pesquisa tradicional. Segundo Philipp Schindler, Chief Business Officer da Google, as receitas geradas pelo AI Overviews mantêm o mesmo desempenho por pesquisa que o modelo clássico. O problema? Os publishers e criadores não participam dessa monetização, a menos que haja um clique que direcione o utilizador para os seus sites. Ou seja, a Google ganha igual ou mais, enquanto os restantes ganham menos.

Algumas mudanças podem estar a caminho. A Google já começou a testar anúncios diretamente dentro do AI Overviews, o que pode antecipar um modelo de monetização partilhada, à semelhança do YouTube ou da Google News Showcase. Também iniciou acordos de licenciamento com alguns meios de comunicação, embora de forma seletiva e pouco transparente.

Um novo frente regulatório

O avanço do AI Overviews não gerou apenas inquietação nos meios de comunicação, mas também nos reguladores. Nos Estados Unidos, um juiz federal (que já determinou que a Google mantém um monopólio ilegal em Search) pode vir a exigir que a empresa permita a publishers e criadores do YouTube optarem por não ceder os seus conteúdos para treinar modelos de IA. Na Europa, a Publishers Alliance apresentou uma queixa antitrust, alegando que a Google utiliza conteúdos editoriais sem autorização para alimentar o AI Overviews, o que provocou uma queda mensurável em tráfego, visibilidade e receita para vários meios independentes.

Este movimento soma-se à pressão crescente sobre os modelos fundacionais de IA generativa e a utilização de conteúdos sem licença, num contexto em que as grandes plataformas estão a redesenhar o ecossistema sem uma negociação estruturada com quem o alimenta.

O início do “Google Zero”?

À medida que o AI Overviews ganha protagonismo, cresce também a preocupação com um possível cenário “Google Zero”, em que o motor de busca deixa de atuar como distribuidor de tráfego para se tornar o ponto final de chegada do utilizador. Um cenário que, se se consolidar, reconfigurará por completo os modelos de negócio baseados em conteúdo, publicidade, SEO e afiliação.

“A pergunta já não é como posicionar-se primeiro no Google, mas como continuar a existir num motor de busca que deixa de enviar tráfego. O SEO do futuro será mais parecido com gestão de entidades, reputação e autoridade do que com o posicionamento clássico”, refletem várias agências de meios.

Enquanto a Google avança com a sua IA generativa, o setor editorial e publicitário terá de repensar como medir a visibilidade, como captar a atenção e como negociar o valor que acrescentam ao sistema. O AI Overviews não é apenas uma nova interface de pesquisa: é o início de um novo contrato entre criadores de conteúdo, plataformas tecnológicas e utilizadores.

Anterior
Anterior

Publishers pressionam a Google por acordos de IA que garantam receitas justas, transparência e controlo

Próximo
Próximo

Uma nova funcionalidade no Performance Max divide os anunciantes: há dados, mas falta contexto